Na minha humilde opinião, o melhor e mais importante filme de guerra já feito. Pela primeira vez, temos noção da verdadeira magnitude de uma guerra, da destruição e da devastação decorrentes dela.
Destruição não apenas de cidades, mas, principalmente, de vidas, de sonhos, da humanidade dos soldados, que se perde diante de tanto horror. Em um outro filme de guerra do Spielberg, um personagem diz "A guerra tira tudo, de todos''. O preço que se paga nem é sempre é a vida. Muitas vezes o impacto emocional e psicológico é tão arrasador quanto a morte. O próprio Capitão Miller atesta isso, reconhecendo a perda de sua identidade, pois os soldados sob seu comando não fazem ideia de onde ele é, o que fazia antes da guerra. Descobrir que ele era um singelo professor causou espanto entre os soldados, enquanto que em sua cidade natal isso não era surpresa alguma. Em 3 anos a guerra o mudou completamente.
E temos ainda questões centrais da história que permeiam todo o filme: Por que arriscar 8 vidas para salvar apenas uma? Por que a vida dele vale mais do que a de oito soldados? O filme nos apresenta um motivo, uma resposta: Uma mãe já perdeu três filhos em combate. Não obstante a isto, devemos nos indagar: Esse motivo é realmente válido? Com intuito de amenizar o sofrimento de uma mãe que já perdeu três filhos para a guerra, é moralmente aceitável colocar em prantos as mães, esposas e filhos de todos que saíram em resgate do soldado Rayn? O General mensurou o sofrimento, o valor da morte. Isso é algo mensurável? Defendo a posição do General. Se perder um filho é uma tragédia imensa, imagine perder três. É algo difícil, possivelmente impossível, de se imaginar. Obviamente que é fácil para o General, seguro em seu escritório, fazer essa conta e ordenar a missão. Assim como é fácil para mim, no conforto do meu sofá, dizer que o apoio. Como diz o ditado ''Pimenta no dos outros é refresco''. Mas e se eu realmente fosse um soldado e tivesse que pegar meu equipamento e sair caçando esse cara? Ainda acharia que o sofrimento da mãe dele merece ser apaziguado? Estaria disposto a sacrificar minha vida para isso? Possivelmente não. Não há respostas simples para questões tão complexas. E assim como quem assiste, os soldados não enxergam a lógica dessa situação.
Mas como diz um trecho de um poema citado pelo covarde Upham ''There's not to reason why, there's but to do and die''. Ou seja, os soldados, independentemente de quaisquer dúvidas, tem um dever a cumprir. Ainda que não há aparente lógica nessa missão, ainda que pareça suicídio, como soldados, só lhes resta obedecer e morrer. Poha, isso chega a ser poético. Nisso reside a beleza das forças armadas. Essa complacência de cumprir o seu juramento, o seu dever, não importa qual seja. E com isso não quero dizer que esses caras eram patriotas fanáticos. Muito pelo contrário. Ninguém queria estar ali. O filme mostra que essa virtude advém, não apenas do dever para com a pátria, mas dos laços de irmandade entre os homens, da coragem de ajudar o seu amigo de guerra. No fim, o maior dos sacrifícios é feito em nome da honra, de princípios e de amizade.
O interessante também é que na Segunda Guerra Mundial havia um clima de luta pela liberdade, luta contra a tirania. O que faz com que O Resgate do Soldado Ryan seja a perfeita homenagem à todos aqueles que deram sua vida em qualquer guerra. Na Segunda Guerra Mundial não houve interesses obscuros por trás de boas intenções, não é como o Vietnam, ou a Guerra do Iraque, na qual as pessoas sempre desconfiaram dos motivos e da validade da guerra. Aqui é a boa, velha e inspiradora luta do bem contra o mal (nazismo). Liberdade versus tirania. Acredito ser este um dos principais motivos que faz o filme ser tão admirado.
Não dá pra esquecer também da qualidade técnica absurda do filme. Batalhas épicas, realistas, chocantes e emocionantes. A câmera trêmula do Spielberg te coloca dentro do combate. A invasão da Normandia é icônica. A recriação da época, dos uniformes e armas, das cidades destruídas, tudo é incrível. Poucos filmes são tão influentes quanto este. Praticamente tudo o que veio depois sobre guerra replicou as virtudes técnicas de O Resgate do Soldado Ryan, de filmes e séries de TV à games.
Nada disso funcionaria sem um elenco tão bom quanto este e um Tom Hanks em seu auge para nos importarmos e torcermos.
Já perdi a conta de quantas vezes assisti este filme. Talvez umas 12. E continua fantástico. Sem dúvida um dos melhores filmes de todos os tempos. Um marco na história do cinema.